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quarta-feira, 23 de março de 2011

Homefront

Os EUA representados na trama inflamada de Homefront são praticamente irreconhecíveis. Através de uma sucessão de escolhas e contingências infelizes, a “nação mais poderosa do mundo” — conforme se pode ouvir em qualquer blockbuster hollywoodiano de tema bélico —viu seu poderio bélico e cultural desmoronar diante de um novo colosso mundial: a Grandiosa República da Coreia (Greager Korean Republic). “Mas isso não existe!” Ok, vamos por partes.
Homefront parte de uma base não muito original para contar a sua história. Pelo menos a princípio. Trata-se aqui do clássico futuro distópico que transforma os seus piores pesadelos (sobretudo se você for um estadunidense) em uma realidade tão execrável que beira a mais completa e incrível fantasia ficcional. Não fosse um detalhe: uma diligente construção “tijolo por tijolo”.
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Em Homefront, a desenvolvedora Kaos Studios pretende que você acredite no seguinte cenário: em 2027, os Estados Unidos da América sucumbem ante o avanço inabalável de uma supernação constituída pelas Coreias do Norte e do Sul. A diferença aqui é que a cronologia que conduz até esse desfecho “apocalíptico” — dependendo do lado em que você esteja na guerra, é claro — é tão convincente nos seus acontecimentos, que toda a ficção assume um incômodo clima de “quase real”.
Senão, basta acompanhar os principais eventos do período coberto pela introdução do jogo. A Coreia do Norte ignorando sanções das Nações Unidas em relação ao desenvolvimento de armas nucleares. A morte de Kim Jong-Il e a ascensão ao poder de seu filho, Kim Jong-Un. A indicação deste para o Prêmio Nobel da Paz pela reunificação das Coreias — com direito a capa na revista Time.
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Entretanto, conforme a nova Grandiosa República da Coreia experimenta seus dias de glória, a antiga hegemonia americana começa a ruir. Além da instabilidade social causada por uma alta sem precedentes nos preços do petróleo — sempre ocasionadas pelo clima beligerante do Oriente Médio —, há ainda pandemias, falência de instituições financeiras vitais e, por fim, a declaração de lei marcial e a dissolução das Nações Unidas.
Diante desse cenário, é natural que os EUA não tenham conseguido cumprir com suas obrigações globais. Uma delas, a manutenção do sistema GPS. Dessa forma, em 2024, Kim Jong-Un anuncia um novo programa de satélites. Daí até a detonação termonuclear em algum lugar sobre o Kansas foi, digamos, uma questão de tempo.
Enfim, como já disse o sábio, “o Diabo está nos detalhes”. Mas como também outro sábio já deve ter dito: “nem só de histórias sobrevive um FPS (tiro em primeira pessoa)”. Portanto, vamos aos demais detalhes que se pretendem merecedores dos seus US$ 60.

Aprovado

Bem-vindo a 2027
Conforme demonstram os retalhos de história mencionados acima, a trama constitui um dos elementos centrais de Homefront. Não que um enredo denso, por si só, represente grande coisa — mesmo que imbuída de prazerosa futurologia.
A questão central aqui é: quantos FPS (tiro em primeira pessoa) atuais conseguem agregar à experiência já bastante tradicional do gênero uma trama genuinamente inédita e envolvente? Afinal, cá entre nós, uma boa parte dos shooters atuais se limita a simplesmente vomitar qualquer história para justificar a clássica troca de tiros.








    Aprovado

    Bem-vindo a 2027
    Conforme demonstram os retalhos de história mencionados acima, a trama constitui um dos elementos centrais de Homefront. Não que um enredo denso, por si só, represente grande coisa — mesmo que imbuída de prazerosa futurologia.
    A questão central aqui é: quantos FPS (tiro em primeira pessoa) atuais conseguem agregar à experiência já bastante tradicional do gênero uma trama genuinamente inédita e envolvente? Afinal, cá entre nós, uma boa parte dos shooters atuais se limita a simplesmente vomitar qualquer história para justificar a clássica troca de tiros.

    Dessa forma, mesmo com a jogabilidade de Homefront soando quase excessivamente familiar (mais detalhes adiante), a distopia de uma América do Norte tomada por uma ditadura das mais incendiárias não pode deixar de causar certa comoção.
    Mas para evitar que o agourento futuro americano assumisse ares demasiadamente impessoais — afinal, é uma guerra —, a desenvolvedora Kaos Studios ainda permeia a ação de cenas intensas, algumas verdadeiramente chocantes. Senão, basta conferir a porção introdutória do jogo, na qual uma criança tem seus pais assassinados diante dos seus olhos.
    Uma guerra de becos e vielas
    Toda guerra, quando retratada em perspectivas colossais, acaba correndo o risco de se desligar do seu fator humano. Quer dizer, entre explosões, bombardeios e tanques de guerra, é pouco provável que alguém se preocupe em saber o nome do seu vizinho de trincheira. Bem, eis outro ponto que o modo campanha de Homefront trata de forma bastante adequada.
    Img_normalBasicamente, os combates aqui são travados em ruelas, becos, em uma profusão de lugares escuros e pestilentos — como uma vala cheia de cadáveres. Isso conduz a um estilo consideravelmente inovador, no qual mais vale se esgueirar, se arrastar e evitar sentinelas do que simplesmente sair distribuindo tiros para todos os lados.
    Afinal de contas, embora o multiplayer de Homefront coloque as coisas em termos de “nós e eles” (EUA e Coreia), durante a história você nada mais é do que um piloto de helicóptero recrutado por guerrilheiros — uma força de reação cujas proporções ainda arranham apenas a superfície do embate global.
    Multiplayer old school
    Embora a inovação garantida pelo modo campanha de Homefront não exatamente se faça presente nos seus modos multiplayer, é impossível não garantir pelo menos algumas boas horas de diversão aqui.
    Quer dizer, realmente não há nada de fundamentalmente original em “Ground Control” e “Team Deathmatch”. Entre outras coisas, a diferença sutil na forma como o jogo concede pontos através das partidas. Em vez do clássico “exército de um homem só”, os pontos de experiência distribuídos por equipe reforçam o trabalho em conjunto.



    Mas justiça seja feita: o ambiente multiplayer traz, de fato, algo do que torna a campanha de Homefront tão singular. São os mapas. Em vez de cenários genéricos compostos por destroços e fumaça, há aqui um país real em frangalhos, e é impossível não experimentar um pouco desse sentimento... Mesmo em ambiente online.
    Battle Points: a sua moeda corrente aqui
    Helicópteros, jipes de guerra, artilharia antiaérea... Os modos multiplayer de Homefront trazem uma vasta coleção de armamentos. Para adquirir cada um deles, basta gastar alguns “Battle Points”.
    Só que uma das coisas mais interessantes para se empenhar alguns trocados ainda são, sem dúvida, os “drones”. Trata-se de veículos controlados remotamente, com vantagens que vão da localização dos inimigos até uma artilharia própria. Sim, eles podem ser destruídos a qualquer momento, e também é verdade que podem ficar sem bateria... Mas mesmo assim são “brinquedos” excelentes para desembarcar certa imprevisibilidade no ambiente multiplayer.
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    Reprovado

    História futurista. Jogabilidade retrógrada
    Qualquer fã de jogos de tiro em primeira pessoa provavelmente soltaria, logo após as primeiras movimentações de Homefront: “Isso parece datado”.
    Na verdade, nem mesmo a história apoteótica envolvendo um piloto de helicóptero desesperançado consegue esconder o fato de que a jogabilidade de Homefront parece ter sido forjada durante as primeiras gerações de FPS. E isso em praticamente todas as dimensões: movimentação, efeitos de tiro, conversações, etc. A impressão geral? Um Counter-Strike com proporções globais...
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    US$ 60... Por cinco horas de jogo?
    A menos que você se torne um completo fanático pela jogabilidade multiplayer de Homefront, o modo campanha o levará naturalmente para a seguinte conclusão: 5 horas é muito pouco pelo dinheiro empenhado. Principalmente quando se considera o caráter épico assumido pela campanha — algo que certamente precisaria de muito mais horas para que não parecesse truncado.

    Vale a pena?

    Os antagonistas de Homefront deveriam ser outros: chineses. A ideia foi abandonada logo no início em razão de questões culturais... E também porque, no frigir dos ovo, norte-coreanos ainda “assustam” mais do que chineses. De qualquer forma, a escolha mostra a preocupação e o cuidado com que a Kaos Studios cria a sua distopia, o que resultou em um cenário incrivelmente épico e envolvente — da trama global aos detalhes.



    Entretanto, a boa história não evita que Homefront pareça consideravelmente datado, logo de cara. As movimentações, os efeitos sonoros e mesmo os modos de jogos... Tudo isso já foi visto antes, embora dificilmente na mesma bagagem de uma história de grande porte. Dessa forma, fica o aviso: embora a campanha principal seja inegavelmente interessante, ela é também bastante curta. O resto do apelo de Homefront fica nos modos multiplayer, que são tão divertidos quanto clássicos.

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